José Carlos Morais

A sociedade contemporânea vive em ritmo acelerado e as informações chegam aos borbotões a cada segundo. Os jovens não tem paciência em assistir um vídeo por mais de dois minutos e pessoas são atropeladas por mensagens nos seus uatizapis e às vezes literalmente atropeladas, pois não tiram os olhos dos seus celulares, como se a mensagem desaparecesse se não for lida no mesmo instante. Quando alguém lhe envia um e-mail, imediatamente, lhe avisa por outro meio eletrônico – “Olha, acabo de lhe enviar um e-mail”. E como nós, pessoas com deficiência, vivemos esse momento? Outro dia, em conversa com minha amiga Júlia, fui assaltado por essa indagação.

Temos um tempo próprio. Sem dúvida. Para um compromisso com hora marcada precisamos colocar meia hora a mais em nossa programação. Nossa ida ao banheiro é mais demorada; vestir uma roupa também. Enfim, nossa rotina é mais lenta. E como queremos tratamentos iguais, procuramos fazer com que esse tempo a mais não seja percebido. Entretanto, nem sempre é possível. Várias deficiências necessitam de muito tempo e outros precisam terceirizar o seu tempo, pois são dependentes, lhes falta autonomia. Estaria a sociedade disposta a “perder o seu tempo” para a plena inclusão das pessoas com deficiência?

A impaciência com uma pessoa gaga, agora a gagueira é deficiência, é clássica. Não raras vezes as pessoas completam suas frases, tornando a situação mais angustiante. Paralisados cerebrais comumente se expressam com a lentidão que lhes é característica. Muitos pais de alunos em escolas convencionais acham que as crianças com deficiência atrapalham o aprendizado dos seus filhos sem deficiência, tidos como mais rápidos e mais eficazes, o que torna um dos entraves para a inclusão escolar. Mal sabem esses pais que é exatamente esse tempo de convívio com a diferença que tornará seus filhos pessoas melhores e mais bem preparadas.

Jovens vivem aflitos pois suas postagens não receberam os likes esperados. Em que prazo e quantos seriam suficientes para serem felizes? Os influenciadores digitais intervêm na vida das pessoas, predominantemente em coisas supérfluas, em geral voltadas para o consumo. Ditam a moda tornando o mundo globalizado cada vez mais igual. Milhões de jovens (número real, sem força de expressão) seguem essas criaturas que postam imbecilidades ao longo do dia. Pena que não usam o tempo a seu favor.

Hoje existe um movimento, ainda incipiente no sentido contrário, de aceno à desaceleração. São pessoas que estão lendo mais e se mudam para cidades menores onde as relações humanas se dão pelo contato pessoal. Tornam-se minimalistas, ao abandonarem o consumo desnecessário. Renunciam às redes sociais ou desplugam seus celulares nos momentos certos. Para esses, o convívio com a velocidade das pessoas com deficiência é mais fácil, porque respeitam o tempo de cada um.

Quando comecei a jogar tênis com andantes, preferia avançar para a bola e evitar o segundo quique para rebater. Sempre catei as bolas durante o jogo com rapidez. Queria que o jogo fluísse com a mesma velocidade e o mesmo tempo de um jogo regular. Queria ser aceito naquele grupo. Depois de vinte anos de convívio, sei que esse tempo passou.  

Por isso a meu ver, quanto mais conviverem com pessoas com deficiência, os indivíduos talvez passem a entender que o tempo de cada um é diferente e esse ritmo deve ser respeitado. O exercício da paciência é um aliado para o amadurecimento. Aprender a ouvir fará de todos, melhores pessoas. Portanto, não tenha pressa e respeite seu tempo. Take your time, como diriam os ingleses de uma forma bem precisa.

 




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