A-trajetória-do-atleta-Lucas“Meu objetivo principal na escolinha era bem simples:  perder a timidez. Com 13 para 14 anos eu era um menino bem tímido e a escolinha serviu para eu conseguir melhorar a dificuldade que tinha de me socializar com as pessoas. Teve também um papel fundamental para minha aceitação como pessoa com deficiência. Na escolinha, eu tive oportunidade de participar de diversas competições e lembro que a primeira competição que participei foi a paraolimpíadas escolares. Foi algo muito marcante na minha vida pois ali consegui me aceitar como pessoa com deficiência. Eu vi outras pessoas aceitando naturalmente a mesma deficiência e sendo felizes.  Lembro que eu só usava calça comprida para não mostrar minha prótese. A partir desse evento, vendo as pessoas com a mesma deficiência que a minha usando bermudas, passei a comprar várias bermudas para mostrar minha prótese. Passei a me sentir mais ser humano, não tinha mais vergonha de mostrar minha deficiência para as pessoas. O verdadeiro intuito do esporte paraolímpico é a inclusão social da pessoa com deficiência. Acho que isso é um dos valores inegociáveis e que só o esporte consegue trazer à vida das pessoas.

A experiência que vivi com tênis em cadeira de rodas utilizo até hoje na minha vida e no meu trabalho. O que aprendi no esporte coloco em prática no ambiente de trabalho, pois o tênis é um esporte de muito técnica que exige muita dedicação e nem sempre o melhor vence. Na realidade vence aquele que tiver um melhor controle mental durante o jogo e souber ter uma leitura correta do que está acontecendo. No mundo corporativo não é muito diferente, pois vence aquele cara que tem a melhor inteligência emocional e tem a capacidade de adaptação perante as adversidades.  Aprendi muito disso jogando tênis… O tênis fez com que eu chegasse mais rápido aos meus objetivos do que as outras pessoas da minha idade. Atualmente curso o 6° Período em Análise e Desenvolvimento de Sistema e trabalho como analista da Ernest & Young.”

Com o crescimento desses e outros “meninos da Escolinha”, já que se tornaram jovens adultos, o Cadeiras na Quadra abriu-se  para uma nova fase: A partir do ano de 2016, sem deixar a parte educadora e de formação de crianças de lado, passou a receber adultos com deficiência e a proporcionar novas possibilidades para cadeirantes nas quadras de tênis.

Uma curiosidade sobre a Escolinha: seu nome surgiu porquê alguns tenistas andantes reclamavam que as rodinhas das cadeiras de rodas faziam buracos no saibro. O Zé Carlos então, sempre muito impetuoso e espirituoso, pegou o carrinho de bolas (aqueles de supermercado) e empurrou sobre a quadra mostrando que as rodinhas das cadeiras afetavam a quadra tanto quanto as rodinhas do carrinho. Feito isso, ele disse: “Vamos ter Cadeiras na Quadra!”

Lamentavelmente, ano, José Carlos Morais, grande tenista em cadeira de rodas, introdutor do esporte no Brasil, ser humano incrível e, como mencionado no início, idealizador deste lindo projeto, nos deixou de forma totalmente inesperada. Mesmo abalados, esperamos poder dar continuidade a esse projeto tão bonito e de grande significado, resgatando seu sonho de um dia ter outros núcleos da Escolinha Cadeiras na Quadra espalhados por todo o estado do Rio de Janeiro, e quem sabe até pelo Brasil. O tênis em cadeiras de rodas pode incluir muitas crianças, que, em razão das suas deficiências, vivem à margem da sociedade.  Tem o potencial de reconectar seus laços com a esperança, com a felicidade e com a vida, contribuindo com a criação de cidadãos fortes, de caráter, conscientes do seu papel no mundo e, principalmente, dos seus direitos, sem esquecerem seus deveres.




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