José Carlos Morais

As cadeiras em fila deslizavam numa bela coreografia. Cada batida exitosa provocava um sorriso instantâneo. Os pacientes professores explicavam em detalhes como os golpes deveriam ser realizados. A pequena Sophia que nunca havia sentado em uma cadeira de rodas, largou suas muletas e no embalo dos seus impulsos levantava os braços numa incrível sensação de liberdade. “Estou amando”, repetia sem parar. O prazer estampado no rosto daqueles tenistas cadeirantes era o retrato do êxito do Projeto. Os professores ao usarem as cadeiras tiveram a oportunidade de sentir a dificuldade de jogar sentados. Experiência medular para ensinar tênis em cadeira de rodas.

Foi nesse ensolarado domingo, 18 de agosto, que o Marina Barra Clube abriu suas portas para receber a Escola de Tênis Cadeiras na Quadra, o vitorioso projeto nascido em Niterói, nas quadras cobertas do Itaquá Soccer, que este ano completa uma década de existência. Uma clínica de tênis ministrada pelos experientes professores Gabriel Mascarenhas (Cadeiras na Quadra) e Gilberto Macaio (projeto UERJ) deu início a novel parceria. Com o objetivo de mostrar, aos professores do clube, como ensinar o tênis em cadeira de rodas, tenistas principiantes foram o instrumento para o sucesso desse workshop. Outros mais experientes, treinados no núcleo Niterói e já rodados em torneios internacionais também contribuíram para mostrar a todos como é viável praticar o tênis em suas cadeiras esportivas.

O evento se estendeu até o início da tarde. O olhar concentrado de muitos sócios tenistas e suas perguntas curiosas a respeito das regras, do piso, do tipo de cadeira e das competições revela o acerto da parceria. Frequentar um dos maiores clubes de tênis do Rio de Janeiro com 18 quadras e centenas de praticantes, com certeza tornarão o tênis em cadeira de rodas muito mais popular, ajudando a desmistificá-lo. O mais surpreendente ficou reservado para depois da clínica. Um grupo de crianças, tenistas do clube, pediu permissão para usar as cadeiras e experimentar a sensação de jogar sentado e ali se divertiram por mais de uma hora.

Ouvido pela jornalista Joana Morais, Samuel Henriques, conselheiro do clube, destacou a importância para a Associação Tênis RJ e para o Marina Barra Clube essa parceria com o CVI-Rio e seu projeto Cadeiras na Quadra. “Sempre fez parte dos objetivos do Tênis RJ incorporar o tênis em cadeira de rodas nas atividades da Associação. A vinda de um projeto vitorioso para o Rio de Janeiro, sem dúvida vai facilitar muito as nossas pretensões”. Samuel junto com o presidente Mauro Farias foram os responsáveis para que essa colaboração se tornasse realidade.

Os treinos começam essa semana sob a coordenação de Jonathas Gomes Silva, que atento absorveu cada ensinamento com o interesse de quem realmente entrou de cabeça na proposta. Instrutor de tênis com formação em educação física e especialidade em cinesiologia e biomecânica parece feito sob medida para ministrar aulas para cadeirantes. Quartas e sextas-feiras, de 13 às 15h, as quadras estarão disponíveis, gratuitamente, para receber a todos que se interessarem a aprender o novo esporte. Cadeiras esportivas, raquetes, bolas e todo o material necessário serão fornecidos pela parceria Cadeiras na Quadra e Marina Barra Clube.

Com certeza ganham todos com essa cooperação entre Tênis RJ, Marina Barra Clube, CVI-Rio e o Cadeiras na Quadra. Para os tenistas do Rio é abertura de um espaço importante para a expansão do tênis em cadeira de rodas na cidade, hoje restrito ao generoso projeto de Ricardo Prates e Gilberto Macaio na UERJ aos sábados pela manhã. A presença do Cadeiras na Quadra num clube do porte do Marina servirá sem dúvida na processo de inclusão da pessoa com deficiência. Aprender a viver e lidar com a diferença faz parte, hoje, da escola da vida.




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