Essa é uma frase do cotidiano do empresariado fluminense. Embora não sejam tão explícitos, ela surge ao recordar histórias de contratação de pessoas com deficiência. Fica nítido que suas impressões são bem discrepantes.

O primeiro argumento é o número insuficiente de pessoas com deficiência para trabalhar. Contudo, a análise do Censo de 2010 do IBGE nos mostra que existem 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil. Um simples recorte, pela idade ativa, entre 15 e 59, registra um contingente de 29 milhões de pessoas aptas para trabalhar.

Se considerarmos somente o Rio de Janeiro, esses números alcançam 3,9 milhões de pessoas com deficiência. Se supormos que 20% desse número está em idade ativa para trabalhar, teríamos 800 mil pessoas. Com base nos dados do Ministério do Trabalho, estima-se em 40% destes estão desocupados, ou seja, 320 mil estariam prontas para serem contratadas. Portanto, teoricamente, força de trabalho não falta!

O segundo argumento seria a preferência das pessoas com deficiência em receber o Benefício de Prestação Continuada (BPC) ao invés de trabalhar tempo integral em uma empresa. Embora lógica, essa informação não é verdadeira.

Em primeiro lugar, esse benefício é direcionado às pessoas com deficiência severa. Ao avaliar o Brasil como um todo e recorrer aos dados do IBGE, vê–se que as pessoas com deficiência severa somam a 8% dos 45 milhões da população com deficiência em geral. Considerando severa as com impedimento de longo prazo e que não conseguem se manter por si só. Isso equivaleria a 3,6 milhões de pessoas. Restariam 41,4 milhões de pessoas que não recebem os benefícios governamentais. 

Em segundo lugar, o valor do benefício, equivalente a um salário mínimo, ou seja, 1.039 reais não é chega a ser um atrativo para não trabalhar. Um valor ínfimo, em particular para esse grupo de pessoas com deficiência, que possuem gastos básicos muito maiores que os não deficientes.

Enfim, não há razões sustentáveis para concluirmos que uma pessoa com deficiência não quer trabalhar. Na verdade, não há diferença na forma de pensar entre pessoas com e sem deficiência. Essa é uma dessas “verdades” que se perpetuam sem uma comprovação palpável. Isso é mito! O que as pessoas com deficiência querem é serem reconhecidos pela sua capacidade de trabalho e pela busca constante de obter uma segurança financeira. Isso sim é verdade.




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