John Stancombe, é completamente cego e visitou 1.640 estádios da Inglaterra

John Stancombe aparece nos estádios algumas horas antes do pontapé inicial e é acompanhado por um voluntário que lhe descreve tudo detalhadamente. Tudo não é maneira de dizer: número de refletores, tamanho da grama e das construções, como está o céu, a cor e a quantidade de arquibancadas. Seu relato também contém o público do jogo, o preço do programa – aquele livrinho que os clubes ingleses entregam com informações antes das partidas -, quantas páginas de propaganda tem neste programa, se as instalações contam com bares e televisores, se há banheiros ou vestiários.

Quando começa o jogo, um comentarista senta ao seu lado para lhe contar sobre a partida. De vez em quando, até mesmo um jornalista ou um locutor de rádio que esteja disposto. “Mas coloca pressão sobre eles, se não estiverem acostumados a fazer isso”, afirmou, em entrevista ao Guardian, que nos trouxe esta bela história. O 29º livro da sua coleção refere-se à temporada 2015/16, com as partidas de 1.575 a 1.614. A atenção aos detalhes vem da paixão pelo futebol, que começou com o seu pai e torcendo pelo Wimbledon.

“Meus dois pais são registrados com deficiência visual: meu pai tem visão parcial e minha mãe é totalmente cega. Vivemos em Balham, no sul de Londres, e foi mais ou menos na época do hooliganismo, então era difícil para o meu pai levar seu filho com deficiência visual para os jogos de futebol”, disse. “Eu comecei a relatar as partidas depois de conhecer dois torcedores do Wimbledon que faziam o mesmo. No entanto, como o jogo é recitado para mim por outra pessoa, meus textos passam pela percepção de outros”.

Stancombe conta que um dia, em um jogo contra o Derby, fora de casa, ele e seu pai foram detidos pela polícia por uma hora, após a partida, e escoltados para a estação de trem por 50 oficiais, embora fossem apenas 30 torcedores. “Foi uma intimidação. Chegou a um ponto em que eu não me divertia mais. Por isso, eu passei para o non-league. Eu prefiro a camaradagem da non-league, a amizade e a paixão pelo jogo”, afirmou. “Você é neutro, não importa quem vence. Se o clube me trata bem, comentou bem, eu espero que o time deles vença. Mas, à medida em que você sobe os degraus (das divisões), os clubes o tratam cada vez mais como apenas mais uma pessoa, um número entre o público”.

O bravo trovador de jogos de futebol da Inglaterra tenta ir a mais de um jogo por dia, quando eles são próximos, mas tem dificuldade para se locomover. Precisa decorar os horários e as linhas de trem para ir de uma cidade para a outra, o que nem sempre é possível. Mas ele tenta o máximo que pode desbravar o maravilhoso mundo do futebol non-league, a melhor maneira que encontrou para lidar com a casca de banana que a vida lhe jogou.

“Esta é minha 10ª temporada de futebol totalmente cego. Eu não consigo enxergar desde 2006. Quando isso aconteceu, eu sentei em casa por um ano e não fiz quase nada. Eu não conseguia mais ir para lugar nenhum e dependia dos outros. Eu fiquei um pouco deprimido ou triste, independente da palavra. Eu não conseguia mais ver para escrever meus relatos. Não consigo mais fazer isso, então eu gravo. Você perde um pouco de confiança na vida sendo cego. Eu faço isso porque senão eu apenas ficaria sentado no bar perto da minha casa o tempo inteiro. Quando você fica em casa sozinho, sendo cego, você dorme e acorda, o tempo inteiro. Chega a um ponto que é apenas para sair de casa. Eu venho fazendo isso há 30 anos. Só porque fiquei cego agora eu deveria parar? Tenho vários problemas de saúde, mas, enquanto houver clubes dispostos a me ajudar, eu continuarei visitando estádios”, encerrou.

Fonte: Trivela.uol.




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