Beth Caetano:  Como e quando a dança e o teatro entraram na sua vida?

Matheus Trindade: Quando eu tinha 10 anos, minha mãe achou que eu deveria ter alguma atividade física e fez minha inscrição em várias atividades no CIAD: tinha vôlei sentado, basquete em cadeira de rodas, rugby e jazz. Mas, em uma consulta no Sarah, o meu fisioterapeuta, Marco Aurélio, perguntou para minha mãe se ela não queria uma avaliação dos professores do Sarah para orientar os professores do CIAD. Ela prontamente disse que sim. Então, fiz duas avaliações: uma com o Felipe para atividades esportivas e outra com a Márcia Abreu para dança.

Quando a Márcia me viu dançar, perguntou se eu não queria fazer dança no Sarah também e eu aceitei na hora. Nunca voltamos ao CIAD e nunca fiz nenhuma das atividades que minha mãe tinha feito inscrição. Passei a dançar com a Márcia e a dança começou a fazer parte da minha vida de forma intensa. No Sarah, conheci a Teresa Taquechel e a Angel Viana. Então, fui fazer uma oficina com a Teresa no Cacilda Becker e conheci a Pulsar. Sonho um dia fazer parte desta companhia porque tem muita gente maravilhosa.

O teatro veio como um complemento à dança, pelo menos, foi o que minha mãe pensou quando me inscreveu no curso: que ajudaria na minha expressão corporal na dança. Nem eu sabia que iria gostar tanto do teatro. Acho que teatro e dança se complementam. O curso tinha uma proposta inclusiva, era destinado a principiantes com e sem deficiência. Uma das professoras, coincidentemente, era a Moira que eu já conhecia como bailarina da Pulsar. Me senti em casa e foi muito importante na minha vida.

Beth Caetano: Quais as interferências negativas e positivas que aconteceram após o seu contato com a arte?

Matheus Trindade: A interferência negativa é o tempo que acaba sendo curto porque tenho o colégio que exige bastante e, também, gasto muito tempo no deslocamento de um lugar para o outro, já que não tenho carro próprio. Depender de ônibus é estressante para as pessoas com deficiência. Fico muito cansado, mas não penso em desistir. Já a interferência positiva se manifesta de muitas formas: na maneira de me comunicar com outras pessoas, de me expressar, na alegria de fazer coisas que amo, no meu condicionamento físico e na própria visão de mundo. Muita gente acha que sou muito maduro para a idade que tenho, acredito que a arte contribuiu para isso, além de minha mãe, é claro!

Beth Caetano: Quando foi que você sentiu necessidade de dividir suas experiências com palestras?

Matheus Trindade: Não foi uma necessidade. Recebi um convite para fazer uma palestra e me apresentar dançando no encerramento de uma colônia de férias por uma professora que conhecia meu trabalho e achava que eu seria capaz. Aceitei porque eram crianças menores que eu, achei que poderia passar alguma coisa para elas. Depois vieram outros dois convites e já não eram crianças pequenas. Surgiu, também, um terceiro convite para falar com professores. Fui, falei, e muitos disseram que me saí muito bem. Acho que posso melhorar, mas gostei bastante dessas experiências.

Beth Caetano: Você se vê no papel de ser um multiplicador da filosofia de vida independente, já que através das suas falas você trabalha para facilitar o empoderamento das pessoas com deficiências?

Matheus Trindade: Acho que através da minha história consigo fazer com que algumas pessoas que também têm alguma deficiência, se identifiquem não com minhas limitações, mas com minha capacidade de enxergar como um igual. O primeiro preconceito a ser vencido é o de si mesmo.

Beth Caetano: Qual a sua expectativa para sua realização na área artística?

Matheus Trindade: Crescer sempre, melhorando a técnica, seja na dança ou no teatro. Conhecer novas formas de expressão e, também, crescer como ser humano.




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