Por José Carlos Morais

Abri meu computador e na página do Google havia, como sempre, uma gravura alusiva à data. Passei o mouse por cima e apareceu “1000 Aniversário de Dorina Nowill”. Que bela homenagem! Muitas talvez não saibam a história desta mulher, nascida em 1919 e que perdeu a visão aos 17 anos de idade. Dedicou, desde então sua vida pela inclusão das pessoas com deficiência visual no Brasil e no mundo. Ainda na década de 40 vai para a Columbia University (EUA) onde no Teacher’s College se especializa em educação de cegos. Foi tenaz na batalha para ter no Brasil uma imprensa em Braille para suprimir a total falta de livros acessíveis. Ainda na mesma década de 40 tem duas grandes vitórias com a criação do Departamento de Educação Especial para Cegos e uma biblioteca especializada, hoje chamada de Biblioteca Louis Braille. Enfim, uma mulher muito a frente do seu tempo. Recomendo entrarem no site da Fundação para saberem mais dessa incrível história – www.fundacaodorina.org.br – Talvez um dos mais adoráveis tributos a essa grande dama, foi à criação por Maurício de Souza, de Dorinha, personagem cega da Turma da Mônica. Quem teve o privilégio de dividir o seu convívio, como Izabel Maior, a descreve como “uma pessoa doce e forte, que sempre esteve atualizada e entusiasmada com a educação. Muito bom vê-la reverenciada na internet”.

Por Izabel Maior

Conselheira do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Rio de Janeiro e membro do Fórum Permanente UFRJ Acessível e Inclusiva

Como ativista no Rio de Janeiro desde os anos 1970, conhecia a importância da trajetória e do trabalho mundialmente reconhecido da professora Dorina Nowill. Fui conhecê-la pessoalmente em 2002, um momento de grande emoção e um aprendizado que se seguiu. Firme e doce, ela participou de eventos realizados pela CORDE por muitos anos. Sempre otimista e incentivadora, uma mestra para mim.

Para homenagear a professora Dorina Nowill, na data do centenário de seu nascimento, 28 de maio de 1919, fui buscar sua biografia e parte da entrevista concedida por ela em 2009, que constam no livro e no vídeo “História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil”, ambos disponíveis na internet. Foram realizados com o patrocínio da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, da Secretaria de Direitos Humanos e da Organização dos Estados Ibero-americanos. Dona Dorina, como carinhosamente era chamada, faleceu poucos meses antes do lançamento em 2010. Estes produtos completaram a minha gestão na CORDE e na Secretaria Nacional.

Desejo que os novos ativistas conheçam o legado da professora Dorina Nowill e encontrem inspiração para a defesa de seus valores. Dona Dorina virou a Dorinha da Turma da Mônica e, assim, continua alegrando e ensinando a inclusão para todas as crianças.

Transcrição:

Dorina de Gouvêa Nowill nasceu em 1919, na cidade de São Paulo. Ficou cega aos 17 anos, em decorrência de uma patologia ocular. Após a perda a visão, Dorina foi convidada pela diretora da Escola Caetano de Campos para frequentar o ensino regular, sendo a primeira aluna cega nessa condição, em São Paulo.

Após diplomar-se na Caetano de Campos, viajou para os Estados Unidos, para frequentar um curso de especialização na área de deficiência visual na Universidade de Columbia e realizar estágios nas principais organizações de serviços para cegos. Ao regressar, uniu-se a um grupo de amigas e criou a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, em 1946, da qual se tornou presidente em 1951. Foi pioneira ao trazer uma imprensa Braille para o Brasil. Em 1991, a Fundação passou a se chamar Fundação Dorina Nowill para os Cegos. Entre 1953 e 1970, dirigiu o primeiro órgão nacional de educação de cegos no Brasil, criado no Ministério da Educação, Cultura e Desportos. É uma das sócias fundadoras da Associação Brasileira de Educadores de Deficientes Visuais (ABEDEV), criada em 1968.

Foi uma das fundadoras e presidente do Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos. Em 1979, foi eleita presidente do Conselho Mundial dos Cegos.

ENTREVISTADORES: Mônica Bara Maia e Deivison Gonçalves Amaral – LOCAL: São Paulo-SP – DATA: 3 e 5 de fevereiro de 2009  

Entrevistador: Em 1946, a senhora foi uma das fundadoras da Fundação para o Livro do Cego no Brasil.

Dorina Nowill: Que nós chamamos de Fundação para o Livro do Cego, porque o desespero de ter livros era tão grande, e o que mais faltava eram livros para educar os cegos. O próprio Louis Braille, em uma das suas frases célebres para o pai, quando ele dizia que estava trabalhando para que os cegos tivessem livros. “É preciso meu pai, sem livros os cegos não vão poder se educar”. Ele já tinha essa visão. A época do Louis Braille é quase pré-histórica, era tudo muito diferente, com muita, muita, dificuldade! Mas ele venceu! E outros, como ele, venceram também.

Entrevistador: Mas no Benjamim Constant já tinha a escola, os cegos já estudavam lá.

Dorina Nowill: Mas nós queríamos que ele estudasse em uma escola comum. É um pouco diferente. A inclusão entrou e eu fui mestre em inclusão. Sempre preguei a inclusão. Nunca duvidei!

O importante é isto: a vivência! E nós só damos vivência ao cego se ele puder estudar nas mesmas escolas que os não cegos. Quantas pessoas foram colegas de cegos na Caetano de Campos e depois viram esses mesmos cegos trabalhando com eles em calibragem de motor de avião, em posições das mais diversas. Eles acreditavam porque eles viram, desde criança, que o cego podia tanto quanto cada um deles. Isso é que é inclusão!




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