José Carlos Morais

Muito se tem criticado que as relações humanas se deterioraram com o advento da tecnologia. Mesas de bar onde as pessoas individualmente consultam seus celulares é uma triste e frequente cena. Entretanto, essa mesma tecnologia facilita o acesso aos bens de consumo, a consulta a conta bancária, o preenchimento de relatórios, a compra de ingressos, entre outros. É sobre esse último que vai meu comentário.

Semana passada entrei no site www.ingressorapido.com.br para comprar entradas para uma peça de teatro, A Cor Púrpura, em cartaz na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro. Fiz todo o procedimento de rotina e ao chegar ao momento da reserva de assentos, consegui marcar os lugares regulares e ao clicar no local do cadeirante, nada acontecia. Tentei a manobra algumas vezes, entrei e saí do site e nada. Descobri então, um número de uatizapi e recomendavam acessá-lo para tirar a sua dúvida. Assim procedi.

A primeira e desanimadora mensagem da assistente virtual do site diz: “Devido à fila de atendimento, você pode demorar até 72 horas para receber uma resposta de nossos atendentes”. Conforme previsto, três dias após começo a receber as abomináveis mensagens virtuais. “Pra que eu possa te ajudar, escolha uma opção abaixo”. E assim numa sessão quase infindável de opções, uma resposta vai gerando outra pergunta até que surge a esperada escolha – “você quer falar com um atendente”. Ufa, vontade de gritar – “Claro”!!!!

Explico minha questão, acrescento que pretendo ir à platéia e depois de aguardar uns bons minutos, chega a resposta: “Obrigado por aguardar e desculpa a demora em uma resposta. Para realizar a compra somente na bilheteria do local do evento para o cadeirante e acompanhante. Caso continue com alguma dúvida, retorne o contato! Estamos aqui para te ajudar. Tenha uma ótima tarde!

Ajudar-me!!!!!!!!!!!!! Enfim, coloco minha desaforada resposta, que com certeza foi ignorada. Um site que sobrevive pela venda de ingressos não é capaz com toda a tecnologia atual que um cadeirante possa marcar o seu assento no site. Dar a opção de comprar na bilheteria para uma pessoa que tem dificuldade de locomoção e que, como eu, mora a 60km do referido teatro é um absurdo completo. Causam um constrangimento, justamente com quem mais precisa comprar com antecedência para poder organizar o seu programa.

Que dificuldade tratar todos com igualdade. O estudante marca o seu lugar e coloca o número de sua carteira estudantil que será apresentada no local. O mesmo com o idoso, que justifica sua compra no local com a carteira de identidade. Porque não fazer o mesmo com o ingresso do cadeirante? Se o cara chegar andando não deixe entrar. Aliás, é bom lembrar o local do cadeirante, marcado no chão do teatro, não tem poltrona. Que criatura alucinada compraria um ingresso e marcaria o local onde não há poltrona? Portanto, não vejo nenhuma lógica na atitude imbecil programada pelo site. A única justificativa que encontro para essa restrição é o despreparo descomunal em lidar com as pessoas com deficiência e a ignorância gigantesca sobre o assunto.




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