Não sei se foi uma combinação de um estado de indignação misturado com medo e cansaço, só sei que o resultado de forma alguma proporcionou um ambiente de calma e tranquilidade no que deveria acontecer em um embarque feito nas primeiras horas da madrugada.

Conto com o fato de ter acumulado um desconforto e uma experiência negativa na última viagem quando precisei fazer todo procedimento para a aeronave, no sistema de remota. Isso acontece quando é necessário utilizar escada conectada à porta do avião, por falta do finger, ou seja, aquele túnel que liga o prédio do aeroporto as aeronaves. Por lá, o deslocamento dos passageiros é feito muito mais rápido de maneira segura e acessível.

Quando não há possibilidade de ser feito desse jeito, a empresa fornece uma cadeira com quatro rodinhas pequenas, bem estreita para facilitar o trânsito no corredor já a bordo. O problema é que esse equipamento não proporciona as mínimas condições de segurança para o passageiro. Não tem cinto em “x”, aquele que dá estabilidade ao usuário que não tem o menor equilíbrio, e o que é muito pior, nenhum treinamento adequado do pessoal encarregado dessa função.

escada-avião1Ser obrigado a sair de sua cadeira de rodas, que é a extensão do seu corpo e sem nada de equilíbrio de tronco, sentar-se na tal cadeira de bordo, sem cinto de segurança e ainda por cima subir uma escada íngreme sendo elevada do chão por duas pessoas, é no mínimo assustador e cruel. Por exemplo: é como descer uma montanha russa gigante, sem a menor segurança, sem cinto e ainda por cima sem poder colocar os braços para o alto e soltar um grito. Ou seja, fazer cara de egípcia, tipo paisagem, como se nada estivesse acontecendo. Afinal, comporte-se bem para não atrasar o voo e não criar problemas para a tripulação. Mesmo que isso signifique sua derradeira viagem.

O fato é, eu ainda tenho uma tetraplegia que me permite segurar, mesmo apavorada, atrás do encosto da citada cadeira, que mais tarde ou mais cedo pode tornar o passageiro transportado dessa maneira tão absurda e respaldada por uma norma, mais deficiente ainda ou que aconteça uma queda fatal. Mesmo o próprio funcionário, num paciente em potencial. Já que esta transferência é totalmente perigosa e arriscada para toldos os envolvidos.

A pressa para embarcar o passageiro diferenciado e prioritário, junto à falta de escuta – posso mesmo dizer total descaso – e consideração em respeito ao usuário deste serviço, leva a equipe, salvo alguma exceção, a agir de forma inflexível, bem rígida mesmo, seguindo o manual e as ordens ditadas por superiores, fazendo com que fique quase impraticável a norma que jamais deveria ser esquecida: o bom senso.

Enfim, dentro de mais esta tragédia anunciada, aqui vai meu alerta indignado, baseado e devidamente validado por minha experiência de vida como pessoa com deficiência e como passageira que adora voar. Mas, que isso não tenha jamais o preço do medo e da insegurança de se sentir impotente nas mãos daqueles que se sentem autorizados por regras estabelecidas e uma total falta de escuta. E para mim, sempre prevalecerá a crença que podemos melhorar e evoluir para um lugar de maior compreensão, entre o que é determinado por uma norma e a nossa capacidade de exercer o bom senso em favor da preservação da nossa vida ou danos físicos irreversíveis.

Apertem os cintos e Boa Viagem!

Por Beth Caetano




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