Ansiedade-e-rituais-compulsivos-no-autismo-semlogoA ansiedade e o autismo andam de mãos dadas, e é muito comum que crianças com T.E.A tenham rituais compulsivos que assustam alguns adultos. Um levantamento recente revelou que as crianças com autismo têm uma prevalência significativamente mais elevada de problemas de depressão e ansiedade do que as crianças de desenvolvimento normal da mesma idade.

As crianças com TEA são mais propensas a medos e fobias. Alguns cientistas estudaram comparativamente os sintomas de ansiedade em crianças com TEA,  crianças de desenvolvimento normal e crianças com Síndrome de Down. As crianças com TEA apresentaram mais fobias situacionais e medo de médicos,  mas menos medo de danos e lesões quando comparadas com as outras crianças dos outros grupos.

Para as crianças com TEA, medos, fobias e ansiedade estavam intimamente relacionados com comportamentos problemáticos, ao passo que nos outros grupos essa relação se mostrava menos intensa. À medida que crescem, as crianças com TEA dedicam cada vez mais tempo e energia a expectativa de que coisas ruins possam acontecer no futuro. 

Na última vez em que Vitor – nome figurado – foi levado ao  médico, recebeu uma vacina dolorosa. Hoje, quando a mãe pede que ele tome banho e se arrume para ir ao médico, Vitor grita e se joga no chão, soluçando. O problema que o aterroriza não é o banho, é ir ao médico que talvez lhe aplique outra injeção.

Uma abordagem equilibrada dos medos infantis

Embora seja importante que pais e professores levem a sério os medos infantis, também é importante que não permitam que a vida seja governada por eles. Já conheci pais que literalmente planejam todo cotidiano com antecedência, a fim de evitar qualquer situação que possa causar uma mínima ansiedade nos filhos. 

Evitar situações desnecessariamente alarmantes faz sentido, mas mudar a vida de todos os membros da família para que uma criança de 4 anos com autismo não se sinta desconfortável, de vez em quando, não é razoável. Às vezes, é preciso um trabalho de detetive para determinar o quê, numa situação, está aborrecendo a criança, mas, na maioria dos casos, o problema pode ser encontrado e corrigido.

Como lidar com medos específicos

Um menino não gostava de sons altos, então, colocava algodão nos ouvidos quando a família ia ao shopping, onde havia muitas pessoas falando e música alta. Aos poucos, ele começou a retirar o algodão durante períodos cada vez mais longos, até que o barulho já não incomodava. 

Outro jovem tinha medo de ir ao cinema. Anteriormente, algumas vezes, eles sentiram a necessidade premente de sair da sala de projeção no meio do filme e descobriu que, se estivesse sentado no meio de uma fileira longa de poltronas, ficava com a sensação de estar preso numa armadilha. A solução foi permitir que ele se sentasse na extremidade da fileira perto do corredor. 

Um menino com autismo e alto nível funcional temia ir ao barbeiro para cortar o cabelo. Várias semanas antes do horário marcado para o corte, o pai começou a dessensibilizar  esse menino para o som e a sensação da máquina do barbeiro. Comprou uma máquina semelhante barata e dessensibilizou o filho para o som e a vibração em várias etapas. Antes de cada sessão,  pedia ao menino  para escolher a recompensa que receberia pela cooperação. No início, fazia o segurar a máquina de cortar o cabelo desligada.  Em seguida, a máquina era ligada e colocada contra a palma da mão do menino, para que ele pudesse sentir a vibração. A última etapa, era ligar a máquina e passá-la, para cima e para baixo, ao longo da nuca do menino, simulando que ele sentiria quando o barbeiro realmente estivesse cortando seu cabelo.

Rituais compulsivos

As crianças com TEA, frequentemente, se engajam em rituais compulsivos que podem incomodar pais e professores. O tipo de comportamento ritualístico varia, em certa medida, com o nível cognitivo da criança. 

As crianças de nível funcional mais elevado reúnem e acumulam objetos, alinham brinquedos, ligam e desligam a TV repetidas vezes, e algumas crianças muito verbais se envolvem em rotinas verbais repetitivas. 

Toda manhã, ao chegar à escola, um menino de sete anos insistia em ler as etiquetas com os nomes dos alunos em cada carteira. Outras vezes, lia todas as palavras pregadas no quadro de avisos da sala. Se fosse interrompido, ficava muito agitado, chorava e recomeçava a ler os nomes. 

O clima é um dos assuntos prediletos das crianças com alto nível funcional. Um jovem que regularmente usava o computador imprimia as previsões do serviço Nacional de Meteorologia e guardava as cópias no caderno. Quando não tinha mais nada para fazer, folheava as previsões, lendo-as atentamente e comentando a previsão do dia. 

As crianças com menos habilidades cognitivas, geralmente, se engajam em rotinas e movimentos ritualísticos, como girar o corpo, agitar as mãos, segurar água ou saliva na boca e cuspir, rasgar pedaços de papel ou tirar pedaços de linha das próprias roupas. 

Um jovem não verbal que conheci, com habilidades bastante limitadas, muitas vezes beliscava a sua camisa até encontrar um fio solto, em seguida, puxava o fio até destruir completamente a blusa.

Como limitar os momentos do ritual

Geralmente, é possível proporcionar às pessoas com alto nível funcional horários específicos durante o dia nos quais possam se dedicar seus rituais preferidos e limitar esses horários em outros momentos. Essa estratégia é mais difícil de implementar com crianças não verbais, que são cognitivamente menos capazes.

Medicação para rituais compulsivos

Às vezes, e somente às vezes, as crianças e os jovens com TEA apresentam rituais compulsivos muito graves e autolesivos, não respondendo a intervenções ambientais. Nestes casos, eles podem se beneficiar da medicação.  Porém, essas medicações têm muitos efeitos colaterais sendo extremamente importante o acompanhamento de um profissional capacitado para isso. 

Conselho de pais para pais

Procure uma rede de apoio que possa trocar muitas informações e experiências. No início, muitas intervenções serão, totalmente, iniciativas de “erro e acerto”, pois cada criança é uma criança e somos todos diferentes. Mas, quanto mais conhecimento do que realmente funciona para o seu filho, mais possibilidades assertivas. E nada funciona mais do que aprimorar sempre seu relacionamento através da empatia.

Fonte: Conversa Franca sobre Autismo




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